domingo, 25 de abril de 2010

Sobre o insosso

Lembrarei, mais adiante,
que este cômodo pequeno fora o meu quarto,
e na inércia do conhecimento então velho,
descansando, talvez, os meus sessenta anos numa cadeira de molas,
os livros deixados sobre a estante se abrirão sozinhos,
e neles lerei os meus primeiros anos de universidade,
as vezes que cheguei bêbado em casa,
as mulheres por quem me apaixonei,
as tantas brigas que travei com a minha mãe...

Quem sabe eu não me arrependa de alguma coisa
que os olhos juvenis não puderam ver?
Quem sabe o corpo cansado da velhice
não tenha forças para olhar para trás?

Não, melhor não pensar nisso:
é tudo premeditável.

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