sábado, 17 de abril de 2010

Psicose

as lentes dos óculos turvas...
acho que por isso, quando flexiono os lábios
e assopro para cima,os olhos ardem.

por que penso toda hora em Deus?
talvez porque não consiga, como antes,
escrever poesias livres que tratem de coisas soltas...
todos os pensamentos, agora,
devem passar, primeiro, pelo crivo do conhecimento,
como o processo das máquinas de uma indústria
que embala merda para privadas.

menção à qualquer coisa...
um livro do Drummond jaz calado
ao lençol da cama pútrida.
Quanta força para dar substancia a essa besteira,
quanto verbo para se declarar que estou fedendo a mendigos.

Não,homem não!
eu sou um porco brincando na lama,
como a minha refeição com fezes amigas todos os dias
e sou triste como uma flor cálida num dia chuvoso
onde se vê o céu sendo cortado por raios.

Um assalto, a cada hora, nas ruas desertas da verdade,
um homem sonambulo tregiversa sobre
o conteúdo moral presente nas garrafas de cana:
"penso, logo existo; dois e dois são quatro;
eu era como os macacos do zoológico paulista".

Mas é a luta que reveste de espírito a dignidade,
uma psicologia que tem como fim dar uma razão
somente ao marasmo...

talvez nem o próprio Freud explique...
talvez o falo, o Édipo, esses axiomas que não sei...

conjecturo que tudo não passe, quem sabe?,
de falta de boceta, posto que elas, afirma a ciencia,
preenchem de vida mesmo as almas mais lacônicas
que se prostram à janela suspensa nos extremos ares
e, covardes que são, não ousam...

as tartarugas, se não pusessem os seus ovos para fora,
criando variados buracos sobre a areia da praia,
seriam talvez como eu ou qualquer um que, depois de acabado,
leia este poema, caso eu o publique, claro!

quero beber como os homens sem rumo das clínicas psiquiátricas,
que são levados ao choque dentro de belas camisas de força...
sou um homem coerente pois falo do que faz o meu século
com a sensibilidade sadia,
levando a pontapés o resto de ternura às salas mórbidas do tratamento
das almas defeituosas...

talvez eu me contente em estar sozinho até, como um velho cansado
que espera, no leito absurdo do asilo no qual passa dias e noites,
que os passarinhos lhe cheguem à janela
e cantem qualquer coisa...

no meu século, as palavras e as pessoas têm pernas trêmulas...
o que lhe salva, todavia, não são os bombeiros ou a política,
o que lhe salva é a música.

Um comentário:

  1. eu concordo com vc joao paulo nesse sec o que salva nos e musica sme ela ja podia ter me matado pq nesse sec n faz muito sentido ficar vivo
    Alan

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