terça-feira, 13 de julho de 2010

Incursão dentro do parque

O mais importante, certamente, não é a nudez. E embora aqui, rodeado por ilhas atrás de consolação e loucura, saídas das tabernas mais imundas dos guetos ou das casas mais alvejadas dos bairros burgueses, ilhas peremptórias e assíduas no seu ofício, desgastadas em virtude dos anos que passam sem pausa e que esfarrapam o amor e o sentimento familiar, ainda assim não acho que o mais importante seja a nudez. Se digo que esse homem sentado ao meu lado, com a abotoadura da camisa aberta até o umbigo, o rosto estarrecido por causa do dia inteiro de trabalho, está aqui somente por querer ver mulheres nuas, e descartasse a consumação, as sensações que libertam, e o fragor inexprimível criado pela bebida, estaria sendo redutível nessa pequena análise, resumindo o lazer oferecido por um prostíbulo ao lugar-comum que se diz a respeito dele. Não, não concebo a fôrma na qual enquadram o meu oásis da nostalgia, onde vejo as minhas pequenas réplicas do que são todos fornicar a textura áspera dos mandamentos que os submete e escraviza; antes vê-los como crianças levadas e beberronas num grande parque, no qual pode-se comprar uma largura de sorriso com um punhado de notas equivalente ao preço da carne. E enquanto isso, que eu fique aqui, na penumbra impossível dessa casa sórdida, alimentando-me de cerveja e cigarro, assistindo-os como um espectador fiel e atencioso, mas bem de longe, de tal modo que, mesmo os descrevendo e admirando, eu seja o mais vago, o de olhar mais distante e, o principal, encarado como um exemplo que confirma a minha regra.

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