terça-feira, 17 de agosto de 2010

Digressão no correr da vida

Nem mais uma lágrima. Pelo contrário, agora reter o sangue que desce gota após gota sobre cada centímetro de pele. Há uma nuvem sobre mim que se forma muito cinza; e as aves, que gorjeavam uma primavera musical nos cálamos ocos e quebradiços das árvores enormes, visto a possibilidade dessa chuva que desfaz inundando, esconderam-se. Mas onde? Não se sabe. Entretanto, ante à causalidade, à velocidade dos córregos abertos pelo desabar dos céus, uma beleza espontânea resiste à brutalidade natural, porque também esses atavios, os destroços dessa chuva que cai em gotas grossas e rápidas, são inerentes à natureza. E mesmo o apodrecer de tudo, do pau resistente que se torna encarnado após o mergulho em tantas águas, da flor já sem tantas pétalas atropelada pela correnteza que escorre por entre os lapsos da terra tão sulcada, a inércida do agradável defronte do destino, tudo, sem somenos, é belo. Portanto, a vida não cabe numa equação. Embalde morrermos imergidos na palavra, sem darmos chance ao que nos toca e ao que necessitamos e que é regido de acordo com as suas próprias leis, como o vento, como a água, os nossos desejos, a morte etc.

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