quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Deus é um mal necessário?

Cogito que deus não seja nem um mal necessário, afinal não há uma inferência direta dele nas coisas do mundo. É, sim, o ponto de mediação entre nós e o absurdo: mesmo que logicamente seja uma idéia tola, uma vez que os caminhos da lógica sempre nos clarificam que o mais sensato seria que o negássemos, ele ocupa, dentro do pensamento humano, um espaço considerável, além de independer da nossa vontade e se aproveitar das nossas escravas emoções. As questões existenciais, todas elas, passam pelo crivo divino. O ponto último da nossa vã filosofia não pode ser revelado pelas três bruxas de Macbeth; ele se mostra como aporia frente ao nosso apanhado de hipóteses. Quem nos criou e o mundo? Não há respostas, há possibilidades fomentadas pelos homens. Parafraseando Pessoa: Haja ou não deuses, deles somos servos. Não tem como fugir a isso, pois esse excerto se apresenta como certeza imanente - lógica natural. No mais, querer tirar deus da imunda espécie humana, qual um adulto que tomasse o doce da criança, é como não dar a morte a quem deseja morrer porque sente muita dor - é insensibilidade. Cessemos de ser insensíveis; a religião deve ser o nosso principal escopo.

2 comentários:

  1. A crença em Deus arrasta consigo uma congérie de valores metaterrenos, valores estes que se imiscuem ao dia-a-dia e o fazem repticiamente, qual um câncer subepitelial que arde, tórrido em metástase, ao passo que ninguém o vê.

    Desmascarar as ideologias, as convicções, incluam-se, sobremaneira, as religiosas, não cogita ser insensibilidade. E, mais, não o fazê-las em razão de quê? Piedade? Piedade daqueles que sofrem, posto que tu sofres e precisas também te escorar nalgo?

    Ainda curaremos de aceitar a tragicomédia do passar dos dias, ainda acolheremos sem réstia de pudor esta encarniçada vida, e, finalmente, sem remissão a quimeras teológicas, sem o remanso da providência (ideo)divina.

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  2. Pois é cara, quando se fala de "Deus" se fala de problema, de confusão. O homem faz de tudo pra preencher as lacunas do seu pensamento, e isso não é um problema de hoje, a atribuição de respostas a deuses ou ao Deus de hoje, é tão antiga quanto a própria existência do homem. Deus pode até virar uma "doença", mais o homem não consegue viver sem explicar determinados fatos, (embora não consiga nem se entender!), e muitas das vezes quando dizemos: "me livrei dessa crença em Deus", mas acabamos por endeusar outra coisa, colocando aquilo como "suprema" verdade. Agora sim, um problema muito sério, são as religiões, que transformam as crenças em uma forma de ganhar dinheiro.
    Então se Deus existe ou não, não sei, mais o ser humano só se desgruda de uma coisa pra se apegar em outra, isso é fato, e sem alguma coisa pra se segurar o homem fica a "boiar" n'um mar mental de perguntas sem respostas.

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