terça-feira, 26 de outubro de 2010

Quando num outubro se sente cansaço

Se a realidade faz jus à teoria de que somos em muito iguais aos nossos pais, da minha mãe herdei o não saber agir direito. Tenho rejuntado de cimento e tédio o muro ante o qual nos ajoelhamos ao longo de todos os dias; não obstante, saco da paciência procrastinada uma interrogação a ser feita com cansaço: "Aqui estou. Para que me chamastes?" Nem pelas causas grandes quero despender tantas energias; não porque são grandes e importantes, mas porque sinto náusea e exaustão, tal o doente que vela lúgubre em sua cama, ou o falecido que jaz inerte e lívido no seu leito de morte. Por que negar a preguiça? As formiguinhas que trabalhavam tanto morreram nos livros que as professoras de antes liam aos seus alunos peraltas. A moral envelhecera e se pintara de amarelo àquelas páginas. Os alunos, hoje, são outros, e os que agora estão em fase de aprendizado, recebem novas lições, que se tornarão também amarelecidas. Não há osso de realidade que não seja perscrutado pela osteoporose factual. O eterno ruir, a ausência de compensação, as folhas que caem exangues de vida, o grito pubescente rasgado de uma garganta fugaz... Por que os que riem sempre não encaram com seriedade a vida? A hipocondria é uma desculpa que não convence; tanto mais não convence a escassez de medo. Viver é sentir frios na barriga - e que ninguém me negue isso ou tente me convencer do contrário!

Um comentário:

  1. Gostei do que li!

    Parabéns

    E adorei o texto sobre a infância, ou melhor, a idade.. Com a imagem, tudo formou uma cadeia de pensamentos dentro de mim que até me deu vontade de gritar, e isso não é comum, acredite!!

    abraços

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