sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Para uma biografia orgânica

Eu, que nasci num setembro insosso de 1990, não tenho vinte anos. Cheguei à modorra mas não à felicidade. Sinto pela inanição da juventude hodierna, e tenho pena da minha mãe, que jogou o meu cachimbo preferido contra o chão. Até o mês passado sonhava demais, inclusive que adoraria ser um beletrista de importância nalguma universidade renomada. Mas a idéia de que há pessoas com mais disposição para as disputas que eu brochou as minhas pretensões. Na verdade, ando cansado de sonhar... Na verdade, sou um homenzinho barroco com os pés no chão... Se as condições financeiras me fossem melhores, tenho certeza de que beberia todos os dias, gritando que tudo é um mistério e que o brinde de agora é pelo caos. O prazer etílico me torna insubmisso ao tédio e à lógica brutal que rege as relações humanas - e até a filosofia pretende a felicidade. Essa foi a maneira que achei de preencher meus vazios absolutos - sinto-me feliz com ela, embora me mate. E estou começando a achar que o ébrio dia após dia pôs a necessidade de análise no chão - (re)inventou a clínica. Não critico mais ninguém: estou disposto, a partir de agora, a me humilhar incessantemente. Descobri que sofrer, como o cristão fundamentalista de um só neurônio, fornece-me prazer dos mais absurdos: a humilhação constante é um exercício de luz e expansividade. Quanto menos orgulho, quanto menos peito inflado, tanto melhor: mais divino... Por fim, fica revelado um segredo: eu sou São Francisco de Assis.

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