sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Profanando as ações policiais: ou das poluções avisadas por Facção Central

A população se mostra conivente às facécias do Estado, dado que esse, com os seus punhais, promete-lhe os momentos tranquilos daquela paz nunca existente. Tudo bem: todos desejam dias mais ermos. Eu também desejo, e me predisponho a levantar baioneta em virtude dessa luta, mesmo que quixotesca. Desde pequenos, retomando o pensamento de Bloch, aspiramos uma vida saudável - nas folhas em branco que nos são dadas, o que mais desenhamos são utopias: castelos rodeados de montanhas, sóis perfeitamente ovais, princesas indubitavelmente róseas e belas, e assim por diante. Todavia, fazendo valer os apelos da natureza, nós crescemos e o que sonhamos aqui já não tem as mesmas graça e leveza de antes, porque o conteúdo daqueles desejos antigos encorpam os reclames da objetividade do agora, e os castelos e as musas brancas se tornam ideais inalienáveis - são as metas. Na sociedade estabelecida, o que não é isso quer ser isso, e o que não quer ser isso é contra isso. Desse modo, as nossas quimeras, antes tão joviais e alegres, entram no fluxo de uma correnteza por onde seguem todas as alternativas, e passamos reivindicar os nossos direitos enquanto "ser" tomando como referência o que é e aspira todo mundo - no fim do rio, a mesma derrocada. Quando me deixo desvairar em tal reflexão sem novidades, absolvo de sua culpa todos os marginais - vejo-os, em verdade, vítimas. Por exemplo: quando penso no tipo de beleza que cultuamos, destituo de sua culpa o pedófilo: este cometeu o crime de desejar as enérgicas formas de um ser ainda jovem; quando penso em como carregar um estigma desde a infância pode afetar a experiência de vida de qualquer pessoa, destituo de sua culpa o serial killer: este, quando o analisamos, sempre traz em si o trauma de não ter consumado a mais importante fase da sua vida, a infância; enfim, poderia citar ainda inúmeros exemplos para fundamentar as minhas questões, mas que sejam estes apenas. E quem somos nós para barrar àquele que, com secura, quer que seja feita justiça? Entrementes a ordem seja necessária, o que seria o promíscuo social senão a própria busca por modelos ideais? Ele é os conselhos dos pais, os ensinamentos da escola e os sonhos de todos os seus amigos. O que seria o traficante que pega em armas para atirar contra o Estado, senão uma subjetividade que, por ter sido castrada dos meios de ascensão social, adentrou na vida ilícita como forma de conseguir os ideais já mencionados? Não podemos submeter a nossa ciência à teatralização da segurança pública promovida pela mídia: eles trocam os atores de lugar em qualquer espetáculo, e não conseguimos conceber com coerência mocinho e vilão. Quem se diz favorável às tropas de elite dos heróis à ultraje negro, não fala pela paz dos dias melhores; na verdade, precisa relembrar os abusos dos quais sempre foram vítimas e que, como anuncia o grande poeta da banda de Rap Facção Central, Eduardo, esses seres horríveis e frios "são cães adestrados pra matar".

3 comentários:

  1. É meu caro João,

    Infelizmente a sociedade paralisa seu olhar para o simplismo diante de uma realidade muito mais complexa. Pela sociedade ser preguiçosa, ela apenas escolhe em qual lado se apoiar e como nossa grande vagabunda midia tem o poder de monopolizar opiniões, simplesmente coloca os atores sociais em posições convenientes aos seus discursos e a sociedade apática e nojenta fica a coçar o saco e o priquito no entretenimento sanguinário ao gosto delicioso da pipoca no sofá.

    O pior é que opiniões como as suas de reconhecer também o lado dos pedófilos, dos killers, terminam o excluindo do mundo dos homens limpos de caráter, justamente por eles serem incapazes de reconhecer de forma critica a dinamica da realidade e se espriguiçam na comodidado do dicotomismo do bandido x moçinho, aceitando toda a ordem e a limpeza de conflitos tão desejada pelos grandões que sonham cada vez mais tornar o mundo uma jaula organizada entupida de animais dóceis.

    www.movimentotorto.com

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  2. boa vina . bem anarquista esse discurso
    alan

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