quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

A retórica do dinheiro

Que valor a inteligência, o discernimento, num país como o Brasil, permeado por uma massa ignorante e educada a eleger como modelo ideal os padrões europeus de beleza, pode ter? Nenhum. Desse modo, o que é entendido como normalidade prescreve àquela máxima muito repetida nos nossos dias: o Ser não é nada, o que importa é o Ter. Se o dinheiro é alvo de grande estima por parte das pessoas, há toda uma explicação lógica para isso. O dinheiro é o pressuposto para se alcançar àqueles padrões, por isso se mata e se morre por ele; afinal, todos querem ter o seu carro e a sua casa confortáveis, frequentar bares e ambientes requintados e vestir roupas bonitas, da moda. O dinheiro, a quem o ostenta, tem o poder de reduzir as diferenças com o que lhe é alheio. Quanto maior for os meus excedentes de capital, tanto mais os possíveis estigmas que eu carrego se diluirão no tecido da sociedade, de modo que as confluências existentes entre ser e meio - e a partir das quais grupos são recortados - cessam e eu passo a estar dentro dos padrões reclamados por uma convenção erigida quase que silenciosamente. É por isso que as pessoas dizem: pobre que usa tatuagem é malandro, mas as tatuagens que encobrem o corpo de uma pessoa rica são sinônimos de beleza. É por isso que se criou aquele ditado: rico que rouba é cleptomaníaco, pobre que rouba é ladrão. A única premissa que define esse ditado é o dinheiro. Leva-se em consideração que a pessoa abastada, por ter condições de comprar o que quiser, só furtou por ter algum desvio psicológico. O seu poder aquisitivo é usado pretendendo-se fomentar uma verdade, que por ter seu viés lógico, acaba também virando convenção. E mesmo que o pobre tenha roubado para se alimentar, as suas condições econômicas não lhe permitirão poder pagar um bom advogado para justificar, frente ao juiz, isso - a ele, nesse caso, a justiça ocorre-lhe mais crua. Se o dinheiro é super-valorizado é porque ele reduz as diferenças, aumenta o campo de possibilidades para a justificação de alguma circunstância, reduzindo ou aumentando o seu efeito, seja para o bem ou para o mal.

14 comentários:

  1. puta que pariu. Esse é um pseudo-intelectual. Se você se coloca acima do [i]corpus[/i] social, como dotado de uma (falsa) inteligência distinta, é porque não aprendeu o suficiente.

    E mais, se o dinheiro é super-valorizado é porque o mercado, que é o campo onde travam-se as relações sociais e o produto do trabalho se transforma em mercadoria (reificada), há uma processo esquizofrênico de fetichização, promovedor da acomulação de capital, e, nesse sentido, não há redução de diferenças, mas sim recrudescimento de antagonismos!

    Vá estudar por hoje!

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  2. puta que pariu. Esse é um pseudo-intelectual. Se você se coloca acima do corpus social, como que dotado de uma (falsa) inteligência distinta, é porque não aprendeu o suficiente.

    E mais, se o dinheiro é super-valorizado é porque no mercado, i.e., é o campo onde travam-se as relações sociais e o produto do trabalho se transforma em mercadoria (reificada), há um processo esquizofrênico de fetichização, promovedor da acomulação de capital, e, nesse sentido, não há redução de diferenças, mas, sim, o recrudescimento dos antagonismos!

    Vá estudar por hoje!

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  3. massa . eu penso parecido joao . gostei desse texto
    Alan

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  4. Wolf, vá estudar retórica pra aprender o que é "diferença" dentro dessa área. Eu não fiz um libelo ao capital; muito pelo contrário, concordo com essa visão marxista esboçada por você. Agora, o que falo está dentro do que ocorre nesse processo de fetichização, a partir do qual se cria uma sucessão de arbitrariedades que monopolizam o corpo social, com seus padrões de normalidade e diferença.

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  5. Aceitação é um motivador poderoso.

    Guilherme alvarenga

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  6. O que se cria são mecanismos nem um pouco arbitrários,nem um pouco aleatórios, para monopolizar parte do corpo social ( monopolizar os espoliados). Há explicação para a sucessão destas pseudo-arbitrariedades, que no fundo não o são, pois encontram matriz e causa no modelo econômico-produtivo capitalista.

    O que se pode dizer é que o Capital homogeiniza, traça diretivas sobre "o que significa ser normal" para toda a sociedade. A classe abastada (exploradora) se uniformiza nestas diretivas,se imiscui nas regras, reduzindo cada vez mais suas diferenças e particularidades, ou seja, despersonalizam-se, suprimindo aquilo que lhe é particular em face das notas comportamentais que traduzem e uniformizam a classe burguesa. Já o proletariado, cada vez mais excluído do processo econômico, não se insere no campo do discurso-burguês da normalidade médico-psiquiátrica, ética, filosófica, etc..

    No fim, teremos um abismo cada vez mais vertiginoso entre duas classes sociais (dominados x dominadores) e uma uniformização cada vez maior entre proletário e classe proletária, bem como entre burguês e classe burguesa.

    Esse processo de recrudescimento das diferenças entre classes sociais, segundo Marx, operaria de forma paulatinamente,radicalizando-se com o tempo, reduzindo a sociedade entre duas populações amorfas e desindentificadas.

    Mas, parece que isso não aconteceu.. Ou aconteceu? Fica a questão: O capitalismo hoje, pós-moderno/globalizado, fez da estrutura de classe algo mais complexo, heterogêneo, com classes sociais intermediárias e uma divisão multifacetada do trabalho? Ou Marx estava mesmo certo, e a sociedade terminou simplificada, em dois grandes blocos antitéticos?

    Por fim, esse argumento de que existe uma categoria comum chamada "diferença" na epistemologia da retórica é falácia.. a categoria "diferença" pode adquirir sentido peculiar para um autor ou outro, sem valer de maneira universal, por todos os retores ou estudiosos da retórica(alexy, perelmann, humboldt, filósofos da linguagem, semiólogos, linguistas, etc.). Portanto, se quando falou em "diferença" incorreu, na verdade, em intertextualidade, deveriar ter apontado..

    Em suma, se preocupe menos com a forma, menos em cuspir diamantes-que-reluzem-sem-conteúdo, se preocupe menos em demonstrar uma erudição-rococó e vá direto ao cerne, à nervura da questão!

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  7. A questão colocada por mim não tem nada a ver com isso de que você falou. Estou tratando do dinheiro enquanto linguagem, da forma como ele operaciona retoricamente no imaginário de uma população dum país como o Brasil. Isso é algo posterior à fetichização; ou seja, uma estrutura se sedimenta e, dentro dela, se desenvolve jogos de linguagem, criando-se, dessa maneira, uma heterogeneidade que, por ter definidos os seus modelos ideais, buscará, como forma de resolver os impasses da diferença, adquirir esses mesmos modelos. Por que você, Rodolfo, que se mostra tão apregoado ao corpo teórico marxista, optou por fazer um concurso que lhe pagaria um alto salário quando poderia sobreviver sendo vendedor de uma loja? Porque o dinheiro, tendo em vista o seu caráter de redutor das diferenças, lhe garantiria as comodidades que são tidas como padrões dentro da sociedade. Os caminhos, para quem tem posse do capital, possuem menos agruras, são mais transitáveis. O que o locutor pretende ao se dirigir para uma platéia é o mesmo. No que ele diz há 'implícitos' que fazem do ethos um artifício que não se reduz a ele mesmo, mas uma dimensão que também diz respeito às emoções dos interlocutores.

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  8. Este comentário foi removido pelo autor.

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  9. Só para complementar: eu não estou dizendo que o dinheiro reduz as diferenças sociais. Acho que essa é uma interpretação equivocada do meu texto. Estou dizendo que ele, visto como objeto fetichizado, será procurado como forma de reduzir as dissensões existentes entre quem o procura e quem o tem. Por exemplo: o shopping é um ambiente burguês; para visitá-lo você não usará roupas feias, pois, tendo em vista as roupas usadas pelas pessoas que o frequentam, você poderá ser alvo de indiferença, olhado de soslaio. Então, para reduzir as diferenças entre você e os padrões exigidos pelas pessoas que andam no shopping, que são burguesas, você procurará se vestir bem. As roupas belas escolhidas, nesse caso, constituem o logos(os adornos) utilizado para convencer um dado público que não há diferença entre você e ele.

    Vale dizer que não falo da retórica bruta aristotélica ou quintiliana, encarada como mero objeto de persuasão ou arte do bem falar, refiro-me à nova retórica, de Perelman, Reboul e Meyer, onde se fala muito em "diferença", em aproximação ou adesão do interlocutor às teses que lhe são apresentadas.

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  10. Não fiz um concurso por questões de comodidade ou questão de aquisição de bens voluptuários. Você erra aí.
    Não fiz um concurso por deixar-me seduzir com o discurso ideologizante do capitalismo. Eu, bem como todos,
    precisamos produzir e reproduzir-nos materialmente. É uma questão econômica. O fato de alguém ter logrado ingressar nos quadros público-estatais, através de um processo seletivo acirradíssimo, que elimina a maioria esmagadora e se torna ainda mais difícil conforme o vencimento do cargo se eleva, e assim conquistando ao custo de meses de estudo, compenetração, sacrifício(sic) de finais de semana e persistância; não o desautoriza a defender posturas marxistas ou posturas marxistas mais coevas, que se mesclam ao linguistic turn sofrido pela filosofia durante o Séc. XX.

    Seria também idiotice, por análogo, afirmar que um professor de universidade pública, que recebe do Erário, não pode professar valores marxistas. Lembremo-nos: burguês é o que oprime, por ser detentor dos meios de produção. Comprar a força de trabalho alheia. Burgueses são os que detém poderes (econômicos,políticos) que instrumentalizam a imposição de "saberes", imposição de "valores" e cristalização da estrutura social através da criação e reverberação de espaços discursivos ideologizantes/alienantes/fetichizantes/simbólicos.


    Se o dinheiro é super-valorizado, é porque ele é fetichizado. Em verdade, o que é fetichizado é a mercadoria, e em decorrência, o dinheiro que serve como intermediário universal (em valor) entre as trocas de mercadoria. Se o proletariado quer o dinheiro, é porque quer uniformizar-se conforme o arquétipo do bom-burguês. Se quer carros de luxo, Tvs LCD 60'' e opíparos banquetes é porque necessita sentir-se pertencido ao universo burguês do desperdício e das voluptuosidades. Há, muitas vezes, essa pretensão de identificação (redução da diferenças) com a classe dominante. Mas tudo o que há, frise-se, é a pretensão. Pretensão que é a eterna tensão entre não-ter e pretender ter, e disso não se costuma ultrapassar, tendo em vista a quase inexistente mobilidade social no modelo capitalista.

    De qualquer forma, a sua última resposte foi bem mais coerente e esclarecedora. Veja:

    "Estou dizendo que ele[o dinheiro], visto como objeto fetichizado, SERÁ PROCURADO como forma de reduzir as dissensões existentes entre quem o procura e quem o tem."

    bem mais claro. Vejamos agora um trecho anterior, um pouco dúbio, no texto original

    "Se o dinheiro é super-valorizado é porque ele reduz as diferenças,[aumenta o campo de possibilidades para a justificação de alguma circunstância, reduzindo ou aumentando o seu efeito, seja para o bem ou para o mal.]"

    O primeiro trecho, acima, até o colechete, soou a mim (má interpretação, pode ser) como redução das diferenças de índole social. o trecho em colchetes, sinceramente, me pareceu vazio de conteúdo. Não consegui captar o que passava pela sua cabeça e, a última coisa que você poderá me chamar, por isso, é de burro. A meu ver me parece pouco compreensível.

    enfim, continue polemizando nos próximos posts. volta e meia eu leio.

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  11. O último trecho postado por você, que é o que finaliza o meu aforismo e ao qual você chamou de vazio, é uma complementação dos exemplos que dei para justificar as teses por mim lançadas anteriormente. O seu ataque, ouso dizer, só veio à tona por causa dele, uma vez que, como você mesmo disse, o próprio lhe pareceu dúbio.

    Quantos às questões iniciais de sua resposta, só tenho a dizer que não duvido do seu empenho e das circunstâncias que envolviam o concurso pleiteado. Mas ainda assim, meu caro, não pretendo contaminar de romantismo às convicções que tenho sobre a infecção capitalista da sociedade que, para aliviar o seu frio, quer arrefecer o seu corpo com mais quente cobertor. Isso, a depender do caso, não é motivo para suscitar vergonha ou complexo de pobreza - a busca, quando realizada através dos meios legais, é salutar. Mas o frio, todavia, é sempre forte e ninguém quer, na verdade, senti-lo. E tanto melhor bradar urras à revolução quando as baixas temperaturas não nos acomete. Nem eu, nem você, nem Marx somos exemplos de Sacher-Masoch's. Masoquismo não tem a ver com luta, mas com disfunção psicológica ou arte.

    No mais, só para constar: o marxismo acadêmico é coisa a se pensar.

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  12. Só pra complementar, como você disse, esse ímpeto por inserir-se no universo do bom-burguês-opulento ocorre por conta da ideologia, processos de ideologização, a ideologia tem a sua função retórica, que é conseguir "aderência", através do simbólico e da linguisticidade.

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