sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Crônica de um operário

Cuspida a saliva no chão sujo da boca fétida de dentes não escovados. A mão cabeluda e suada se inclina ao falo para coçá-lo e aliviar-lhe secretamente a gastura de se querer fornicar o ardido da pica. Uma gota salgada de suor diário escorre da tez ao pescoço criando um ponto levemente escuro na camiseta cinza do homem que se desfaz sob um sol bem brasileiro. Defronte às lentes do óculos escuro um carro da companhia de segurança corta a rua com dinheiro e vigilantes escondidos dentro de blindado ferro. A cabeça móvel se desloca sem raciocínio conforme a direção seguida pela vagina irrefutável coberta por dois dedos de pano e convenção social. Calvice que abriu duas saliências na parte frontal da cabeça para que ali se acumulasse o óleo excretado da pele. Aceno brusco acompanhado de rasgado grito para o companheiro que volta do almoço e labuta logo em frente. Braços ao alto e a boca aberta talvez pra lamentar o fim duns minutos onde a vida se fez dispersa. Acionados os botões da enorme máquina e sorriso por conveniência dado amistosamente aos camaradas. O pescoço se inclina para acompanhar o movimento do árduo avanço tecnológico e o homem finca a sua atenção no estático trabalho. A indústria parece efervescer de alegria. Mas ele em que pensa agora?

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