sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Epicurista

Amava nas borboletas suas coloridas asas alegando que elas alegravam o mundo. Sabia das mesmas que possuíam bem curta vida e mesmo assim eram indiferentes a todo o mistério fomentado pela igreja católica. A si mesmo chamava prostituição infantil e depois dos livros queimava a rosca numa esquina para fecundar a razão com torpes idéias freudianas. Punha o ser na parede para chupar-lhe o genital sifilítico e sentir o prazer ofuscado pela falta de referências. Queria que a bibliografia da tese definitiva fosse de uma página e nela estivessem os nomes de Marx e Mallarmé destacados em caixa alta. A sua educação recebera num reformatório no qual além das putas pastores munidos de bíblia e verbo acenavam para deus com o cu ardente. Visitara aos dezoito anos o parque de diversões da anfetamina à convite de Ginsberg e lá levava as garotas para comerem maçãs-do-amor olhando a lua a brilhar no céu. Atravessou os bares do mundo com a geração derrotada pelos vícios e pela guerra nos psicodélicos anos 60. Foi encontrado inflado como uma baleia na sua banheira depois de ter bebido vinte garrafas de uísque e se engasgado com o próprio vômito. Enterraram-lhe uns poucos familiares num cemitério público da cosmopolita cidade em que nascera. Alguns comentaram que ele estava a caminho do inferno.

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