quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Fernando Pessoa: absoluto

Sou leitor incondicional de Fernando Pessoa. Em língua portuguesa, quiçá no contexto global da poesia, não há poeta que se compare ao lírico português: ele disse melhor e com mais veemência que todo mundo. Quem discorda de mim que guarde as suas discordâncias para si e reflita sobre elas: o equívoco está somente em você. Até hoje não li uma palavra do mestre que me desagradasse ou achasse incoerente – nem há palavra, em obra tão hedionda, que possa nos levar a isso. O que ele esclarece que contraste com o que digo é motivo suficiente para que eu reveja meu ponto-de-vista e passe a concordar com o dele. Semelhante ao papel exercido pelo oráculo, vejo, em Fernando Pessoa, a verdade absoluta e a razão pela qual os meus dias não se preenchem de um tédio integral – leio os seus poemas diariamente para que sejam revelados, no mesmo compasso, os segredos do mundo: o limite para a lucidez, por assim dizer, é a náusea. Não me importo em ser acusado de falta de originalidade ou mal-visto por olhos críticos em virtude disso, e se há nessa declaração a possibilidade de despertar o ódio de quem me julga, com maior prazer recrudesço a vossa ira: escrevo e sempre escreverei sombreado por uma obra que nunca será menor ou igual a minha, na perspectiva de tornar-me pelo menos digno perante a consciência incontestável do meu mestre – o que escrevo é mera imitação frustrada do que escreveu Fernando Pessoa. Não tenho nada para dizer nem acho louvável fazer disso fundamento para procurar novos clarões de poesia – as últimas linhas que haviam a serem acrescentadas à literatura, escreveu-lhas o gênio, com mais sofisticação e vigor que os seus antecessores. Admiro até mesmo o modo de vida casto levado por Fernando Pessoa – se me fossem ofertadas escolhas, pediria uma vida semelhante a do meu mestre, com as mesmas dores de dente e angústias de que ele sofreu. Sem razão para elogiar a forma como levo os meus dias, tendo como exceção somente o contato diário com as verdades pessoanas, mais valeria apagar-me de vez a não poder saber-me, quando diante do espelho ou ao finalizar um poema, Fernando Pessoa. Para se tornarem mais sapientes, ou se quiserem comprovar o puro substrato de tudo o que já escrevi, não me leiam – leiam Fernando Pessoa. Em caso de dúvida, façam uma comparação entre os dois, e percebam quão ridículas são as minhas tentativas.

Um comentário:

  1. Concordo contigo...Fernando Pessoa é sim um grande mestre do uso das palavras... É como se ele sentisse a medida certa de cada uma dela e onde elas melhor encaixam-se! Enfim, um gênio!!!
    P.S.: adorei o seu blog!! Já estou seguindo e vou acompanhar sempre!! Dá uma olhada no meu: www.jhanwellington.blogspot.com

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