segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Alienação e calor

Fevereiro, em Sergipe, é sempre quente. Mesmo quando deixamos os ventiladores ligados, o calor maçante dessa época se encorpa às voltas dadas pelas hélices, e recebemos, sobre o corpo, forte bafo de ar fervente. A sensação é desgastante e opressora; cheio de visgo e cansaço, o corpo encontra-se humilhado - estático perante qualquer possibilidade de ação. Muitos filósofos trafegam sobre as almas, e todos eles são livros grossos e pensamentos importantes, hipóteses rebuscadas sobre a morte definitiva, do homem e da sociedade. Tal como são, egoístas e desumanas, as contigências digladiam-se, enfezam-se uma com a outra, tendo a parte frontal das cabeças desvairadas como arena. Vontades de homicídio, poetas decadentistas para si mesmos, suicidas que foram à fachada superior de todos os edifícios e não tiveram coragem. Somos nós, homens progressistas do século, com o punhal não desferido contra o vazio à mão direita, renascendo no abismo e na urdidura, incontáveis vezes e todos os dias. Enquanto suamos, num toalete malcheiroso e frio, a imagem da musa é alteada ao clímax dos nossos pensamentos, acelerando o movimento de prazer dos nossos braços, até que nos foge do corpo o gozo, esvaindo-se, então, a onipotência da musa. Diante dos olhos insanos, tudo corre em velocidade impossível, e há um braço desesperado que tenta trazer Deus a si. É, porém, tudo muito distante; a felicidade, de quem a busca, fica a milhas, anos-luz. Mais vale atentar contra a barbaridade da vida: é chegado o tempo de arremetermos as nossas cabeças ao encontro dos muros, de modo que sejamos cada um, diante do intransponível, simplórios poetas.

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