terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Primeiro excerto anti-literário

Tenho inquietações no organismo de tanto desejar; contorce-me os pensamentos a vontade de uma inteligência exatamente estática; todas as razões, cujas asas planam abandonadas como um sentimento que não se pode conceber, apontam para a excisão do que em mim é humano e sujo. E isso, circuncidados os românticos, é ter ao peito arfante a estupidez que faz do homem natural um poeta. Antes ter sido engendrado mecânico, ou bedel de uma escola esdrúxula na qual as crianças não desejassem o estudo; posto que enoja-me os suspiros literários de quem lesse como se isso fosse a vida, e desdenho a lírica acumulada por meio da qual fosse se suprir uma grande fome, escrevo versos de delírio como quem quisesse lacerar os clássicos: a estética ideal pretende a anti-literatura.

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