terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Da carne

Os cumes de carne do seu corpo repleto há dois anos. Há dois anos uma língua escorria sequiosa pelos relevos esbranquiçados de sua pele. Gestos corpóreos trocados fanaticamente entre as paredes do quarto escuro. No mais fundo da noite, frases curtas repetidas vezes, proferidas em tom quase silente, entrecortadas pelo relógio de ponteiros apregoado na sala, somadas numa sinfonia dissoluta de gemidos preguiçosos. A bebida destilada jorrada sobre o ventre caramelado, encontrando em dois segundos à pequena concentração de pêlos púbicos acumulados na extensão de carne rodeada pelas virilhas. E ia-se ali com a boca cheia de ânsia audaz sorver o álcool vertido e ficar ébrio. E ali fazia-se sucção demorada até que o carnegão prazeroso se tornasse seco. Depois, num lapso de inconsciência em que as pernas ameaçavam desmoronar ao chão, as costas prefiguravam um apoio onde um peito suado se escorava e, encostados nos ouvidos alheios os lábios úmidos, dizia-se, por fim, Eu te amo.

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