sábado, 10 de dezembro de 2011

Faísca?

A direita tem repudiado o parcialismo da militância de esquerda. Ela deseja do militante uma postura mais irascível e orgânica perante o mundo, forçando-o a não ser apenas a boca reclamona cheia de palavras radicais, a tautologia inócuo utilizada em defesa dos vencidos, mas o uso de si mesmo como o próprio ato radical, a realização na experiência da teoria que suplantou todas as outras. Tendo ganhado forças em suas lutas nos mais variados âmbitos da sociedade, impeliu a esquerda às consequências finais do pensamento filosófico que a antepara, deixando-a sem outra saída ao requestar a integralização de suas motivações. Em resumo, ela está dizendo o seguinte a quem se pretende socialista, libertário: ou você está do nosso lado ou você está do outro lado. E a não tomada de decisão por parte da esquerda - isto é, a não radicalização de seu discurso - poderá decretar o seu fim, ou melhor, sua derrota total.

7 comentários:

  1. Pois eu defendo este tal radicalismo, mas não esta dita "tomada de partido" lateral, visto que, hoje em dia, é cada vez mais difícil diferenciar Direita e Esquerda (sic).

    Seja como for, esse tipo de embate é percebido nos filmes do Ken Loach, que é um diretor que eu teimo em não apreciar, mas acabo de ver um de seus filmes menos comentados - o ótimo "Meu Nome é Joe" (1998) - e, como eu comentei lá no 'blog' da Gomorra, sinto a necessidade urgente de promover uma maratona de sua obra e repensar o problema faiscante que tu resumiste aqui: que tal? Topas te aventura numa empreitada destas? (WPC>)

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  2. Essa não radicalização pode, de outro modo, torná-la, a esquerda, além de mais numerosa, também mais eficaz. Tomar o suposto julgamento final da Direita de que não é possível hibridização e flexibilidade é justamente o que ela quer: a manutenção de um argumento histórico anacrônico que deseja manter o termo "esquerda" nas mãos de uma empreiteira já falida é que prestidigita seu fim, quando hoje temos outra epistemologia, outro contexto, outra contingencia, outros fins, outro mundo.

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  3. Wesley, topo, sim. Preciso assistir aos filmes do Ken Loach primeiro. Você, na segunda, poderia me passar alguns deles? Eu levo meu HD externo lá no DAA. Qualquer coisa, avisa lá do Face.

    Lou, as trincheiras da esquerda situam-se numa guerra - sim, é importante o jargão bélico - que todos sabem qual é. A direita identificou um problema exposto por Antônio Callado, em um romance cujo título é Quarup, já em 67: a distância do militante politizado para o povo, nos momentos decisivos em que os dois se untam, impossibilita que eles se tornem uma coisa só, pois tanto povo quanto intelligentsia, até então, compartilhavam de modos de vida distintos, embora o sentimento de inconformação de ambos seja o mesmo. As minhas reflexões sobre isso decorrem do argumento recorrente nas bocas reacionárias de hoje, com o qual, na medida do possível, eu até concordo: a Veja, em matéria publicada no mês passado, fez de um caso particular - as roupas caras de um militante - o pressuposto para uma conclusão genérica - a manifestação ocorrida na USP não é legítima porque fomentada por burguesinhos revoltados. Isto é, ela se utiliza da postura parcial de alguns para destilar suas críticas a alternativas libertárias e dar densidade à massa de jovens conservadores atual. Portanto, está chegando o tempo que isso, se continuar a acontecer, representará, como disse no texto, a derrota total da esquerda.

    Por que quando colocamos o espelho na frente de algum militante, por exemplo fazendo com que ele olhe a sua Frontier contrastando com a causa pela qual ele diz lutar, a resposta quase sempre é o silêncio?

    Eu só acredito em alternativas radicais. Acredito que até aqui, seja como esquerdista ou como o reacionário que já fui, só acreditei em posturas radicais.

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  4. Wesley, eu também não sou nenhum ser ortodoxo. Pelo contrário, advogo, assim como Benjamin e Sartre, por um marxismo mais aberto que vê na heterodoxia uma ferramenta fundamental na potencialização das lutas contra o capitalismo. Os limites dessa heterodoxia não se desvelam desde que ela não tire ao marxismo o que há de mais válido e sóbrio: a consciência da luta.

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  6. Algumas questões:

    1. É o povo quem deve se aproximar da academia ou o oposto?
    2. Penso que o "sentimento de inconformação" possa vir, sim, a ser o mesmo, mas desacredito que pelas mesmas razões ou com os mesmos fins; afinal, pertencem a classes distintas, culturas distintas e campos sociais distintos. Mesmo entre eles, acadêmicos e trabalhadores, deve haver uma série de divergências pontuais, complicando ainda mais a averiguação de uma intersecção em seus objetivos e anseios...
    3. Será que a recepção deste texto da Veja (que pessoalmente considerei superficialíssimo e impregnado de senso comum) atinge à parte significativa dos que ainda possuem traços de esquerda (isto é, para esclarecer do que exatamente tomo por esquerda ainda hoje, aquilo que advoga por igualdade econômica e de direitos humanos)?

    Os progressistas e os conservadores sempre tiveram seus problemas e não creio que nem um nem outro esteja disposto a ceder facilmente. Mas são só apontamentos, para que não caiamos em profetismos, como bem nos previne Bourdieu em seu texto sobre a ruptura da sociologia com as prenoções e as filosofias sociais.

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  7. 1- É tudo uma questão de paralaxe: se falamos da USP e congêneres, a militância tem de ser ostensiva não dentro do campus, uma vez que lá só tem burguês e, sabendo que essa classe não se convence de nada, vide a ignorância reinante no movimento de retaliação aos sensibilizados pela prisão dos três alunos de Geo, a esquerda já deveria ter parado lhe dar ouvidos, mas fora dele, onde uma massa pobre é sujeita, todos os dias, a condições desumanas de trabalho, a mercê do fortalecimento econômico de indústrias e empresas; se falamos da UFS e congêneres, onde há a concentração de uma grande massa de pobres, a militância tem servir de exemplo, colocando as suas posturas no mesmo nível que o seu discurso radical, posto que as pessoas, mesmo as pobres, não são mias tão ingênuas como antigamente, e já viram no que alguns militantes, com o passar dos anos, deram: Dédas, Nogueiras, Lulas, Dilmas etc.

    2- Se os interesses são distintos, a causa pela qual os militantes estão lutando não é aquela responsável pela culminância da Revolução de Outubro. Isto é, a base da sociedade - os trabalhadores - não está sendo posta como o horizonte que dimensiona as intenções da militância, corrompendo assim o que há de mais básico no corpo teórico marxista. Por isso disse, logo mais acima, que intelectuais e trabalhadores devem, mediante uma aproximação efetiva, negociar suas diferenças, sedimentando o amadurecimento da luta através do processo dialético. Isso acontece na militância de hoje? Como haveria, se o que há é uma falsa aproximação, em que um militante não conhece sequer o sabor de compartilhar com as massas um ônibus lotado?

    3- eu citei a vejo como um exemplo que caracteriza o discurso conservador atual. Perdi as contas de quantas vezes, na UFS mesmo, já ouvi pessoas ostentando um discurso parecido com aquele da matéria publicada por Veja. E, se não atingisse, certamente esse tipo de crítica não seria o que há de caricato entre os conservadores de Sergipe, de São Paulo, do Rio de Janeiro etc.

    Precisamos de uma Primavera Latino-americana.

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