quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Sobre o ensino de filosofia

Recentemente, fui noticiado por uma mãe de que o seu filho havia reprovado em filosofia. Indignada, ela me colocou a seguinte questão: qual a necessidade de uma pessoa ter essa disciplina no 2º ano do ensino médio?

Ora, não a tirei da razão por questionar a utilidade da referida matéria na "educação" do seu filho. Entretanto, o que vejo de problemático não é o ensino de filosofia em si, como também não o acho o ensino de religião ou de educação física e a consequente possibilidade de reprovação numa dessas disciplinas.

O fulcro da questão concentra-se, no meu ponto de vista, na falta de interesse dos pais em saber se o quadro geral de matérias tem sido abordado em consonância com uma metodologia de transmissão do conhecimento coesa. Este fator crucial no despertar da atenção dos alunos para o que está sendo passado, não estando restrito apenas ao âmbito das disciplinas marginalizadas, diz respeito também ao ensino de matemática, biologia, física, química, português... – todas as matérias.

A utilidade da disciplina filosofia na educação humanística de uma pessoa dispensa um novo comentário extenso, uma nova abordagem: tendo em vista a obviedade da finalidade mais geral da matéria, culminaremos nas mesmas conclusões das várias discussões afiançadas nos últimos tempos em veículos especializados e em periódicos semanais de direcionamento popular.

No entanto, é válido reafirmar que a agenda de interesses da filosofia contempla o aspecto crítico da formação, colocando em relevo entrelinhas sobre as quais as ciências convencionais não se debruçam. Se em história normalmente se revisita o passado com base nas vitórias e conquistas das classes dominantes, em filosofia se discutirá os métodos de abordagem do objeto da ciência histórica com base no paradigma da universalidade, o que respalda a importância da ética no debate filosófico, havendo aí a possibilidade de se concluir que a forma de abordagem x do passado não é, como parece, tão razoável.

Uma incisão mais rígida sobre o tipo de ensino ofertado por essas instituições educacionais coloca em xeque não só a proficiência dos professores em transmitir o conteúdo das respectivas matérias que lecionam, mas a própria finalidade da educação convencional em um mundo lacerado pelos dispositivos sociais atuais.

Quando a educação não se coloca em oposição ao contexto adverso que a envolve e assume a essência apodrecida daquele, não só se transforma naquilo que esse contexto é, mas também fornece provas de que não tem mais nada a despertar nem a ensinar. O desinteresse geral, então, estabelece-se como consequência de uma realidade educacional que, ao tentar competir com o mundo absorvendo-o superficialmente, torna-se incapaz de suscitar curiosidade, paixão: a competição por bons resultados existente na escola é a mesma competição vista recorrentemente na sociedade; a absorção do conteúdo exangue das disciplinas é a mesma tarefa repugnante vivenciada na resolução dos trâmites do mundo burocrático.

Assim, se a filosofia não é direcionada a um exame crítico ininterrupto da realidade dos alunos, reservando-se à mera discussão mecânica de problemas metafísicos pouco atraentes que servirão de base para a solução de uma prova idiota, passa a não se diferenciar de uma disciplina qualquer, tornando-se igualmente dispensável e chata.

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