sexta-feira, 17 de setembro de 2021

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PaganismoO mar sobre o qual ele anda é feito de pedra. Não há, para serem salvas, humanidades - dessa vez são três ou até cinco pessoas. Quem o concebeu não foi um espírito: os gemidos eram emanados dum pequeno cubículo enquanto a noite cedia tragédias futuras através de paredes malpostas, dando para estreitas vielas onde transeuntes miseráveis trotavam o retorno sangrento do serviço diário. Exército em milite não há que possa crucificá-lo numa cruz de madeira rija; o seu carrasco é um delírio a que chamam mundo moderno - sua cruz, todos os dias. Nasceu para contemplar as nuvens se desfazendo imperfeitas nas tardes, o declínio alaranjado de um sol ladeado por mar e tristeza - somente duas horas decadentes do dia são suas. E já é noite quando ele vence o martírio do frio e suas mãos decrépitas tocam a maçaneta enferrujada da porta. Aí, tem-se uma pausa e silêncio: a mansidão da pobreza se alarga e, absoluta, repousa clemente em cada rosto. E quem vence a entrada, sombrio e mudo, não é o homem que quem conhece o julga digno e escrupuloso nem o pai que para suster os seus faz mais horas no maçante trabalho. Quem entra pela porta, tez rubra gotejando a fadiga de uma humanidade sufocada, é Deus.

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