segunda-feira, 13 de setembro de 2021

#

Conto. Era uma vez uma comunidade de insetos liderada por um gigantesco rola-bosta tirano. Do seu púlpito, ao cair da tarde, recebia os tributos do dia de trabalho, vociferando impropérios e mentiras contra os opositores. Enfatizando o abrigo para o fim dos tempos que seria construído com os recursos arrecadados, corroborava o alarde das caixas de som espalhadas pela cidade sobre o caos do último dia. Duas asas monstruosas cresciam por trás dos ombros: podendo voar, onipresente, atemorizava em todos os lugares. Encolerizava-se insanamente se a vontade mais estapafúrdia não lhe fosse atendida. Os sacerdotes, tendo abandonado os deuses antes fervorosamente cultuados, bajulavam-no dedicando-lhe glórias e orações. Sua prole era agressiva e regozijava-se com cenas brutais de sofrimento - ao avistarem um grupo de famintos, jogavam-lhe restos para que se agredissem mutuamente até a morte por eles. Quem se comprazia em indignação amargurava-se também em desesperança, acercado de tal forma por um silêncio férreo e devastador. Embora muitos, cada um pensava-se sozinho. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário